Aliança de Pesquisadores em Missão
Pesquisa, Ação e Adoração
Por Ademir Menezes (Cowboy)
As escrituras nos mostram que a metodologia de pesquisa não é algo novo, ela desenvolve um papel importante em várias épocas, tanto no Antigo Testamento (Ex 30.12; 38.25; Nm 1.2; 2Cr 2.17-18; 2Rs 12.2,4), quanto no Novo Testamento (Mc 3.14-19; Lc 10; At 1.15; 1Co15.6).[1]
Vemos em Êxodo 30.11-16 o próprio Deus orientando Moisés quanto à prática da metodologia de pesquisa, onde ele utilizaria as informações coletadas para o fortalecimento do serviço da congregação: “Disse mais o Senhor a Moisés: Quando fizeres recenseamento dos filhos de Israel, cada um deles dará ao SENHOR o resgate de si próprio, quando os contares; para que não haja entre eles praga nenhuma, quando os arrolares” (v.11-12 RA). O propósito era que todas as pessoas adultas de “vinte anos para cima, dará a oferta ao SENHOR” (v.14), por isso deveriam ser incluídas no censo da população. O valor seria “metade de um siclo” (v.13) e assim, o serviço do tabernáculo seria suprido (v.16). A quantia era a mesma independente da aquisição financeira de cada um (v.15), talvez evitando que os mais abastados se vangloriassem, igualando todos diante de Deus. Assim todo povo se lembraria que a grande população era fruto da misericórdia de Deus, em tê-los preservado em vida levando-os a dar glórias a Ele ao invés de se vangloriarem.
O resultado deste censo aparece em Êxodo 38.25-31 e mostra a efetividade do planejamento na construção do tabernáculo onde o povo cooperou com as ofertas. “A prata dos arrolados da congregação foram cem talentos e mil e setecentos e setenta e cinco siclos, segundo o siclo do santuário: um beca por cabeça, isto é, meio siclo, segundo o siclo do santuário, de qualquer dos arrolados, de vinte anos para cima, que foram seiscentos e três mil quinhentos e cinquenta” (v.25-26). Percebemos nesse texto que Deus usou a metodologia de pesquisa, pedindo a Moisés que fizesse uma quantificação da população, separando os que estariam aptos a apoiar financeiramente, distribuindo o valor em uma quantia proporcional que não pesasse para ninguém e nem fosse motivo de orgulho para quem cooperasse com uma quantidade maior. Esta divisão igualitária deu oportunidade para que todos pudessem participar, usufruindo do privilégio de fazer parte da obra de Deus, neste caso a construção do tabernáculo, lugar onde Deus falaria com seu povo e seria adorado.
A pesquisa em última instância deve manter seu foco na adoração. Esta não se limita em quantificar ou qualificar os dados e fazer uma análise bem elaborada, mas em utilizá-los de forma prática, que levará o povo pesquisado à adoração, seja por gratidão pelo que já foi realizado ou pelo privilégio de poder participar dos desafios apontados. Um bom exemplo é a pesquisa com os povos não alcançados ou menos alcançados. Ela não se limita em saber os números, quantos são e onde estão, mas é um instrumento para transformar os dados em propostas práticas, de maneira que aqueles que nada ouviram tenham a oportunidade de adorar a Deus e levarem outros a adorar.
Ao pesquisar a vitalidade de uma determinada igreja e concluir que esta se encontra em fase de declínio, não se pode contentar que a metodologia foi eficiente e encontrou-se o caminho certo de leitura. Ao contrário, deve-se desejar que esta igreja seja uma igreja cheia de vigor, vivendo em adoração e missão, pois foi transformada pela palavra e pelo Espírito. E que Deus em sua graça permitiu que o pesquisador fosse uma pequena parte dessa obra revitalizadora.
John Hooper foi um ardente defensor da reforma protestante. Tornou-se bispo de Gloucester na Inglaterra em 1551 após a morte de Henrique VIII, foi um “pregador excelente, poderoso e popular. Grandes multidões vinham para ouvi-lo”[2]. Porém Hooper mantinha uma preocupação em seu coração, pois ao visitar os ministros de sua diocese percebeu que a corrupção e ignorância do clero eram evidentes. Ele se empenhou a realizar uma reforma local, mas para isso tinha que ficar a par de como estava a realidade de sua diocese. Desenvolveu então, um questionário como método de pesquisa qualitativa e enviou a 311 clérigos de sua diocese.
Neste questionário tinham nove perguntas básicas, dentre elas estavam:
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Quantos são os mandamentos?
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Onde podem ser encontrados?
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Você pode mostrar onde se encontra a oração do Senhor (Pai-nosso)?
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Quem é o autor da oração Pai-nosso?
O resultado mostrou a condição em que o clero estava, pois dentre estes:
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9 não souberam quantos mandamentos existem;
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39 não souberam a localização da oração Pai-nosso;
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34 não souberam quem era o autor;
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8 não conseguiram responder nenhuma pergunta;
A pesquisa mostrou a Hooper que cerca de 1/3 do clero da igreja da Inglaterra não obtinham um conhecimento básico das Escrituras, indicando aonde teria de ser o investimento eclesiástico e de suas energias nos próximos anos. Assim, puderam manter o foco na pregação com ênfase em um profundo discipulado, o que tornou a Inglaterra “o país da Bíblia”. Hooper era um homem zeloso pela pregação, com paixão evangelística e pastoral, foi sábio na utilização da metodologia de pesquisa, para que, através da informação, levasse as igrejas em que liderava à adoração a Deus.
Várias são as necessidades de pesquisas em nosso país. Onde estão e quantas são: as comunidades desconhecidas em meio a floresta amazônica? Os ciganos espalhados pelo país? Os quilombos que ainda não ouviram? Os sertanejos no sertão nordestino? As cidades sem igrejas evangélicas no Brasil? Os que nada ouviram nos rincões do mundo? São várias necessidades, oremos por mais trabalhadores que possam atuar nesta área tão carente no cenário missiológico brasileiro. No entanto cabe a nós nos alegrarmos pelo que o Senhor já tem feito nesta área de pesquisa no Brasil, pois esta tem sido um instrumento metodológico de Deus.
A metodologia de pesquisa é uma bússola que aponta para necessidades, motivando a ação missionária, para que pessoas simbolizadas em números possam se regozijar no conhecimento e adoração a Deus.
[1] Para uma visão mais ampla da teologia bíblica da pesquisa leia o artigo de KRAFT, L.; KRAFT, E.
Planejando para o crescimento da igrejaem: http://www.pesquisas.org.br/planejando-para-o-crescimento-da-igreja/
[2] HULSE, Erroll. Quem Foram os Puritanos?…e o que eles ensinaram?. São Paulo: PES. 2014.
Originalmente publicado em https://pesquisasamtb.org.br